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Você consegue ficar entediado?

Conversando sobre o tédio. O que é ele? Senti-lo é bom ou ruim?


O tédio é visto como algo muito ruim, normalmente não suportamos a ideia de ficarmos sem fazer nada, isso deixa muita gente angustiada.


Mas, o que seria o tédio? Pensando no tédio do senso comum, seria não se sentir estimulado a desenvolver qualquer atividade, mesmo tendo opções disponíveis.

O tédio a princípio, faz parte da nossa condição humana, ficar “sem vontade fazer nada” em alguns momentos é comum.


O que ocorre hoje em dia é que a quantidade de estímulos ao nosso redor e que estiveram presentes no nosso histórico de vida é gigantesco, a tecnologia principalmente, nos proporciona estimulações muito além do que precisamos, em nossos dispositivos com acesso a internet temos todas as possibilidades possíveis e isso abre portas para inúmeros estímulos diferentes.


Dessa forma sempre estamos preenchendo nosso tempo com algo, pois, como nossa cultura tem cada mais nos ensinado, ficar “sem fazer nada” pode ser encarado como sinônimo de improdutividade, ficar para trás em relação a outros, perda de tempo, entre outras formas de pensar que acabam sempre levando a procura de estímulos, ou seja, mais coisas para se fazer e consumir.


Dessa forma sempre estamos procurando consumir algum estímulo, seja resolvendo coisas do trabalho, fazendo cursos, ouvindo musicas, assistindo a vídeos, acessando redes sociais, pouquíssimo ou nenhum tempo de nosso dia é preenchido com o “nada”, chegamos até mesmo a consumir vídeos para que possamos dormir.


Com acesso a tantos estímulos nos acostumamos a sempre tê-los presentes, estímulos estes que nos proporcionam diversos sentimentos diferentes, alegria, descontração, satisfação e até mesmo sentimentos considerados negativos, tristeza, medo, angústia, basta você pensar naquela série que não conseguimos parar de assistir, com isso, o vazio, o nada, acaba nos gerando estranheza, angústia e para muitos o desespero.


Acostumados a experimentar diversos sentimentos durante o dia, proporcionados pelos estímulos infinitos, estranhamos quando nos deparamos com o tédio, o não sentir “nada de mais” nos faz pensar que algo está errado e que não deveríamos estar assim “apáticos”.

Quando na verdade não conseguimos mais conceber a ideia de não experimentar vários sentimentos diferentes em um dia, advindos de diferentes estímulos.


Para ficar mais claro podemos tomar como exemplo a forma como as pessoas lidavam com a suas rotinas há anos atrás. Era muito comum as pessoas sentarem na frente de suas casas e passarem horas e horas apenas olhando para a movimentação da rua, não fazendo absolutamente nada, repetindo este comportamento durante toda a sua vida. Nos dias de hoje seria bem difícil ver uma pessoa jovem repetindo esse comportamento, se este não estiver acompanhado de um celular ou até mesmo de um livro, ou seja, consumindo algum estímulo.


Um dos grandes problemas da estimulação excessiva (sim, existe outros problemas envolvidos) é que aprendemos a sempre estar neste movimento, procurando cada vez mais estímulos, mesmo que eles não façam tanto sentido para nós. Viver nesta dinâmica pode ser muito exaustivo, pois além de os estímulos demandarem muita energia, dificilmente conseguimos descansar o suficiente para nos recuperarmos, pois para que o descanso exista a estimulação necessita ser mínima. E quando falo aqui de descanso não me refiro apenas as nossas noites de sono, mas sim, nossos dias.


Com tudo o que conversamos até aqui podemos concluir que estamos acostumados a sentir muitas coisas diferentes em um mesmo dia por estarmos expostos a tantos estímulos, no tédio existe o movimento contrário a isso, o “não sentir nada de mais”.


Esse sentimento de “tédio” deve ser vivenciado e experimentado muitas vezes em nossas vidas, ou seja, mesmo podendo fazer múltiplas coisas, posso escolher não fazer nada e ficar bem com essa decisão. Em nossa vida não precisamos o tempo todo sentir diversas emoções, podemos nos acostuma com a rotina, a monotonia muitas vezes, o tédio, pois isso faz parte das nossas vivências, podendo estes serem os sentimento antecessores a tão valorizada criatividade.


Outro exemplo para que não haja uma má interpretação do paragrafo acima. Lembre-se de suas férias, já se sentiu angustiado e ansioso, com vontade de voltar para casa e para o trabalho, sendo que você mal havia chegado e descansado e aparentemente não existem motivos para se preocupar? Pois bem, um exemplo da dificuldade de lidar com uma quantidade reduzida de estimulação.


É claro, falando assim pode parecer não muito difícil diminuir a quantidade de estimulações e se permitir experimentar o tédio, mas é um pouco mais complicado do que imaginamos, principalmente para as novas gerações que nasceram envoltas a tantas estimulações. Porém pode ser adicionado em nossas vidas aos poucos, até nos sentirmos mais confortáveis, sabendo gerenciar melhor.


Vale salientar que quando falamos aqui sobre estes momentos em que podemos nos permitir sentir o tédio, falamos sobre momentos específicos, não chegando a comprometer a vida do sujeito, caso você sinta um “tédio” que lhe atrapalhe em alguns âmbitos de sua vida, lhe impedindo de cumprir obrigações importantes, pode ser que não seja tédio o que você está vivenciando, dessa forma a busca por ajuda é fundamental.


O psicólogo é um dos profissionais capacitados para lhe orientar sobre, identificando estes sentimentos e suas causas, assim como lhe ajudar a lidar com os diversos estímulos e a possibilidade de uma vida mais saudável e de acordo com os seus valores.

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