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Por que nos acostumamos ao Desconforto?

Reflexões sobre Relacionamentos e Ambientes Prejudiciais



Neste artigo, exploraremos a dinâmica complexa dos comportamentos que adquirimos ao longo da vida e como muitas vezes nos adaptamos a ambientes prejudiciais. Discutiremos como nossas interações e experiências moldam nossos comportamentos e como podemos identificar e modificar padrões que nos prejudicam.


Aquisição de Comportamentos: A Influência das Interações na Vida

Desde o momento em que nascemos, estamos imersos em um ambiente repleto de estímulos e interações. Cada interação, seja ela com pessoas, situações ou objetos, molda nossa percepção e influencia nossos comportamentos. Aprendemos através de experiências diretas e observacionais, assimilando informações e desenvolvendo padrões de resposta. Esse processo contínuo de aprendizado é fundamental para nossa adaptação ao mundo ao nosso redor.


Adaptação a Ambientes Prejudiciais: O Experimento dos Ratos como Metáfora

Uma ilustração clássica desse fenômeno é o experimento com ratos realizado em laboratório. Os ratos foram colocados em uma gaiola dividida em dois compartimentos: um onde recebiam choques elétricos e outro livre de choques. Surpreendentemente, os ratos que foram colocados no compartimento em que recebiam choques se acostumaram com o ambiente aversivo e permaneceram naquele lado da gaiola, mesmo quando já podiam escapar para o lado seguro. Esse comportamento reflete nossa propensão à adaptação, mesmo em ambientes prejudiciais, como forma de sobrevivência.


Exemplo da Acomodação Olfativa:

Um exemplo ilustrativo desse fenômeno é a acomodação olfativa, na qual nosso sistema olfativo se adapta a odores persistentes para garantir nossa permanência no ambiente (sobrevivência). Quando estamos expostos a um cheiro forte e desagradável por um período prolongado, como o cheiro de produtos químicos em um local de trabalho, inicialmente podemos ser incomodados por essa sensação. No entanto, ao longo do tempo, nosso corpo se ajusta ao odor e o percebemos menos intensamente. Essa adaptação permite que permaneçamos no ambiente, apesar do desconforto inicial, garantindo nossa continuidade no local.


Paralelo com a Adaptação Pupilar:

Além disso, assim como nossas pupilas se contraem em resposta à luz intensa para proteger nossos olhos, adaptamo-nos a ambientes prejudiciais em outras situações. Por exemplo, em um relacionamento abusivo, podemos nos acostumar com comportamentos tóxicos ou manipuladores de um parceiro, justificando-os como normais ou aceitáveis. Da mesma forma, em um ambiente de trabalho hostil, podemos nos adaptar a um chefe autoritário ou a um clima organizacional negativo, permanecendo no emprego apesar dos efeitos prejudiciais em nossa saúde mental e emocional. Esses exemplos destacam como a acomodação sensorial e a adaptação a estímulos adversos são mecanismos de sobrevivência que podem levar à perpetuação de padrões prejudiciais em nossas vidas.


Exemplos na Vida Cotidiana: Relacionamentos Prejudiciais e Ambientes Tóxicos

Essa tendência à adaptação pode ser observada em diversos aspectos de nossas vidas, especialmente em relacionamentos interpessoais. Muitas vezes, nos encontramos em relacionamentos amorosos ou de amizade que são prejudiciais e tóxicos. Por medo da solidão ou por apego emocional, nos adaptamos a essas situações, tolerando comportamentos abusivos ou desrespeitosos. Da mesma forma, em ambientes de trabalho, podemos nos acostumar com chefes autoritários ou colegas hostis, em busca de estabilidade ou segurança financeira.


Compreendendo a Necessidade de Adaptação: Sobrevivência e Autopreservação

É importante reconhecer que, em muitos casos, nossa adaptação a ambientes prejudiciais é motivada pela necessidade de sobrevivência. Em situações de vulnerabilidade econômica, emocional ou social, podemos nos sentir obrigados a permanecer em ambientes desfavoráveis para garantir nossa subsistência ou manter relações familiares que consideramos serem importantes. Essa adaptação é uma estratégia de autopreservação que nos permite enfrentar circunstâncias adversas. Porem pode nos trazer inúmeros prejuízos.


Identificação e Conscientização: O Primeiro Passo para a Mudança

No entanto, é fundamental que, mesmo diante dessas circunstâncias, cultivemos a consciência e a capacidade de identificar padrões prejudiciais em nossas vidas. O reconhecimento de que estamos nos adaptando a ambientes ou comportamentos que nos fazem mal é o primeiro passo para a mudança. Devemos questionar nossas escolhas e avaliar se esses padrões estão realmente  contribuindo para nossa saúde e bem-estar.


Reflexão e Autoconhecimento: Entendendo os Motivos por Trás da Adaptação

Ao identificar padrões prejudiciais em nossas vidas, é essencial investigar os motivos por trás de nossa adaptação a essas situações. Podemos nos questionar sobre o que ganhamos ao continuar em relacionamentos ou ambientes tóxicos. Essa reflexão profunda nos permite compreender nossas necessidades, medos e motivações subjacentes, possibilitando uma análise mais criteriosa de nossas escolhas. Por exemplo, continuar em um ambiente de trabalho péssimo, pois preciso do retorno financeiro que ele me fornece ou manter uma amizade abusiva, pois acredito que a outra pessoa já fez muito por mim no passado.


Explorando Alternativas: Buscando Caminhos para a Mudança

Uma vez conscientes dos padrões prejudiciais em nossas vidas e dos motivos que nos levaram a nos adaptar a essas situações, podemos começar a explorar alternativas. Devemos buscar caminhos que nos permitam manter o que é importante para nós, ao mesmo tempo em que nos afastamos do que é prejudicial. Isso pode envolver a busca por novas oportunidades de trabalho, a reavaliação de relacionamentos interpessoais ou a busca por ajuda profissional.


Passos para Lidar com Padrões Prejudiciais:

1.  Percepção e Conscientização: O primeiro passo é reconhecer e aceitar que estamos presos em padrões prejudiciais. Isso pode envolver a observação de nossos próprios comportamentos e a análise das consequências negativas que eles têm em nossas vidas.


2.  Identificação das Razões para a Adaptação: Em seguida, é importante explorar as razões pelas quais nos adaptamos a esses padrões. Podemos nos questionar sobre o que nos leva a permanecer em situações prejudiciais e quais são os benefícios percebidos dessa adaptação.


3.  Exploração de Alternativas Viáveis: Uma vez identificados os padrões prejudiciais e compreendidos os motivos por trás de nossa adaptação, podemos começar a explorar alternativas viáveis para mudar essas situações. Isso pode incluir a busca por novas oportunidades de emprego, o estabelecimento de limites saudáveis em relacionamentos ou a procura por suporte profissional.


4.  Busca por Ajuda Profissional: Por fim, é fundamental reconhecer quando precisamos de ajuda externa para lidar com padrões prejudiciais em nossas vidas. Um psicólogo pode oferecer suporte emocional, orientação e estratégias para promover mudanças positivas e saudáveis em nossos comportamentos e relacionamentos.


Conclusão

Em suma, é importante reconhecer que nossos comportamentos são moldados por nossas interações e experiências ao longo da vida. No entanto, nem todos esses padrões comportamentais são benéficos para nós. Muitas vezes, nos adaptamos a ambientes prejudiciais como uma forma de sobrevivência, mas é essencial identificar e modificar padrões que nos causam prejuízos. Ao cultivar a consciência, explorar alternativas e buscar ajuda profissional, podemos iniciar um processo de mudança positiva em direção a uma vida mais saudável e satisfatória.

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